Guardada em uma caixa velha de sapato encapada com papeis de revistas coloridos, lá está, em meio a tantas cartas de amor e amizade: uma folha pautada, dobrada em três partes, com as linhas preenchidas por palavras, frente e verso. A última frase quase não cabe; está espremida no canto.
O tom amarelado do papel e a letra com traços infantis indicam que aquele relato havia sido escrito há alguns anos. Sim, há mais de uma década. Trata-se de um breve diário de bordo – já resumido por quem aqui escreve - de uma garota que aos 14 anos viajou de avião pela primeira vez com a avó, uma sergipana arretada que, na companhia da neta, foi visitar os parentes no Nordeste. A companhia aérea era a Vasp. A data: 17.07.1995, uma segunda-feira, exatamente às 14h04m.
“Estamos dentro do avião, que se prepara para decolar. A comissária explica as instruções de salvamento. O avião começa a andar para a pista, corre muito e decola. É uma sensação gostosa, parece que estou no Playcenter! Dá um frio na barriga e o ouvido entope. Parece que estou solta no ar. O avião está inclinado, ainda está subindo... Fiquei tonta porque agora ele endireitou.
Vejo as nuvens, estamos por cima delas. Parece gelo, algodão, sei lá... Está um dia lindo, pelo menos daqui de cima. Parece que a Terra começa das nuvens ao Universo. Dá vontade de se jogar nessas nuvens. Daqui de cima tudo é muito pequeno lá embaixo. O céu parece um ‘mar congelado’. O avião está devagar (!), quase parando... Impressão minha, ele está super rápido, é claro.
Balança um pouco e parece que está andando no asfalto ou numa rua de paralelepípedos. Agora voa normalmente... Parei de escrever pois fui comer bombom... O avião é muito grande. De longe aparenta ser pequeno, mas quando você entra dentro dele vê a diferença. Estou sentada no poltrona da janela e tirei fotos das nuvens. Agora o céu está vazio. Digo: sem nuvens!
Almoçamos uma comida gostosa, tinha salada e refrigerante. De sobremesa, um cajuzinho e um beijinho. Uma delícia! Fresquinhos e gelados! Veio tudo em potinhos e pratinhos embalados em um plástico.
Neste momento estamos descendo. Dá um pouco de tontura e frio na barriga. Realmente parece o Playcenter, mais precisamente o brinquedo ‘Viking’! Faz um pouco de pressão. Parece que a força da gravidade está nos puxando para baixo. Olho pela janela...
A única coisa que vejo são nuvens.
Parece que vamos entrar dentro delas. Não enxergo mais nada, está tudo embaçado...
A única coisa que vejo são nuvens.
Parece que vamos entrar dentro delas. Não enxergo mais nada, está tudo embaçado...
Agora vejo Salvador daqui de cima. As casinhas pequenas e coloridas do Pelourinho lá embaixo. Paramos no aeroporto. O avião correu muito rápido na pista. Chegamos! A placa diz: 'Sorria, você está na Bahia".
Não que o teu relato do primeiro voo não esteja legal, pelo contrário, é muito bacana, mas eu me emocionei mais com a história que você contou de como encontrou essa folha e porque ela é tão importante...
ResponderExcluir... o resto é silêncio!
Minha hermanaaaa...queres me matar?! Amei isso,o relato de como encontrastes realmente me deixaram c/ olhos cheios de lagrimas, nao sei pq, soh sei q emocionou, talvez pq imaginei vc c/ 14 anos e conhecer-te hj acompanhar ne q seja um pouquinho, simplesmente emociona.E sim, as vezes parece q td nao passa de um dia de Playcenter.
ResponderExcluirparabens pelo blog, ta fantastico.